A cinomose é, talvez, uma das piores doenças que um cachorro pode contrair durante sua vida. É uma doença viral, muito comum entre animais que vivem na rua e animais sem histórico de vacinação. A cinomose infecta o sistema nervoso central do animal, levando o organismo a entrar em uma espécie de “colapso”. A infecção pode ser observada em 3 fases, a grosso modo: após o contato do animal com o vírus, se iniciam os sinais clínicos mais clássicos: secreção nasal, secreção ocular, infecções respiratórias, falta de apetite e apatia. O secreção nasal é bastante volumosa, chegando a tapar as narinas. A secreção ocular também chega fechar os olhos do animal, dependendo da intensidade da doença. Em seguida, aparecem as mioclonias, popularmente conhecidas como “tremedeiras” nas patas, boca, olhos e outros locais. Em uma boa parte dos casos, nesta fase, as patas traseiras não respondem mais e o animal começa a se arrastar. Na última fase da doença, o animal começa a definhar e a ter espasmos e convulsões, e em alguns casos para de deglutir, levando-o à morte por inanição. Em alguns casos as mioclonias e espasmos são tão fortes que o animal chega a morder sua própria língua de modo violento.
Uma das doenças dos cães mais “famosas” na internet, a cinomose é alvo de muitos tratamentos duvidosos disseminados em fóruns e comentários de redes sociais. Infelizmente, a crendice popular apenas aumenta o sofrimento do animal que, sem assistência médico-veterinária necessária, acaba submetido a tratamentos como ingestão de água sanitária, creolina ou uma seleção de alimentos “milagrosos” que supostamente já curaram o animal de outras pessoas. O que acontece, nestes casos, é um conjunto de fatores que levam à cura natural do animal, como a intensidade do vírus (cepa viral, virulência), o estado de saúde do animal e a capacidade de seu sistema imunológico, a exposição prévia ao vírus ou a vacinação prévia, entre outros.
A contaminação pela cinomose ocorre por meio de secreções entre animais infectados e não infectados (lambeduras, contato entre focinhos, beber e comer na mesma vasilha, usar os mesmos brinquedos ou camas). Um cachorro com cinomose pode passar pela sua rua e fazer xixi no portão da sua casa. Se seus animal tem contato com o xixi pelo portão e não é vacinado, o risco de contrair a doença é grande. E fácil, assim. Por isso, a vacinação anual, com vacina múltipla, é a proteção mais efetiva contra a cinomose. Isso não quer dizer que seu animal está 100% protegido contra a doença. Ao ser vacinado, o organismo do animal começa a produzir anticorpos contra a doença, caso seja infectado. Ou seja, a infecção com o vírus ainda pode acontecer, a diferença é que o organismo conseguirá lutar e expulsá-lo muito mais rapidamente do que se não tivesse a proteção. Do mesmo modo, não se pode sobrecarregar o organismo de um animal vacinado deixando-o em contato direto com um animal infectado. Toda proteção antiviral tem limites. A exposição prolongada pode acabar fazendo com que o organismo precise combater um número muito maior de vírus do que a quantidade que ele conseguiria lutar.
Desse modo, a introdução de um animal sem os devidos exames em um ambiente com outros animais é arriscada, e é recomendada sempre levar o animal para uma avaliação com um médico veterinário antes de juntar novos animais.
Embora o vírus da cinomose seja de certo modo frágil à ação de desinfetantes com amônia quaternária ou até mesmo exposições prolongadas ao calor a mais de 50°C, o vírus pode se manter por bastante tempo em um ambiente sem a desinfecção. Por isso, deve-se evitar inserir outros animais não vacinados, principalmente filhotes, em ambientes não desinfetados que tiveram a presença de animais com cinomose.
O tratamento contra a cinomose varia de acordo com a avaliação do médico veterinário, e é classificado como tratamento de suporte. Mesmo com o avanço nas pesquisas sobre o vírus da cinomose, pouco mudou no tratamento utilizado há décadas. O protocolo mais comum é o uso de corticoides para reduzir a inflamação no sistema nervoso central. O problema deste tratamento é que os corticoides, dependendo da dosagem e tempo de tratamento, agem como imunossupressores. Quando há supressão da imunidade, o sistema imunológico do animal diminui a resposta, abrindo espaço para a proliferação do vírus.
Além deste tratamento padrão, há estudos que indicam o uso de antirretrovirais humanos no combate à cinomose. Por ser um vírus da mesma família que o sarampo humano, a pesquisadora prof. Dra. Simone Henriques Mangia desenvolveu sua tese de doutorado sobre o tratamento da cinomose com a Ribavirina, vitamina A e dimesol. Mesmo sendo um tratamento experimental, muitos médicos veterinários utilizam o tratamento.
O mais importante, em caso de infecção, é separar o animal infectado de outros animais e iniciar o tratamento indicado pelo médico veterinário. Não faça o tratamento por conta própria. Dosagens e tipos de medicamentos devem ser calculados especificamente para o seu animal e é necessário realizar o monitoramento do tratamento por meio de hemogramas e outros exames específicos. A medicação por conta própria pode piorar o caso, levando seu animal a um estado de sofrimento muito maior. Cuide bem do seu amigo.
A prevenção continua sendo a melhor maneira de evitar a cinomose. Atente-se à vacinação do seu animal, e aprofunde sua leitura sobre a cinomose nos links abaixo.